ANÁLISE SOBRE A ELEIÇÃO DO SINDICATO DOS MÉDICOS DO CEARÁ
“O quarto estado”, obra do artista italiano Giuseppe Pellizza (1868-1907) |
No dia 10/02/2021 ocorreu a eleição para a nova Diretoria do Sindicato dos
Médicos, envolvendo a Chapa 1 - Continuar avançando, liderada por Leonardo
Alcântara, ex-diretor financeiro do Sindicato e a vice-presidente, Daniele
Oliveira Barros, médica anestesista e a Chapa 2 - Médicos em Defesa da Vida, da
Ciência e do SUS, de oposição, liderada por Liduína Rocha, obstetra, e Roberto
da Justa, infectologista.
CARACTERÍSTICAS DA CHAPA 1
A Chapa 1, organizada por Mayra Pinheiro, Leonardo Alcântara e Edmar Fernandes,
mostrou-se afinada e se dizia continuadora da gestão sindical de então, que:
- diante da Pandemia de Covid19, publicou um Protocolo Clínico de Tratamento
sem nenhuma base científica, com uso de drogas sem comprovação de eficácia
respaldada por pesquisas clinicas sérias e, potencialmente, danosas à saúde dos
pacientes;
- desonrou a categoria médica e ao Secretário de Saúde do Estado, Dr. Cabeto,
ao espalhar uma denúncia falsa de que o mesmo estava obrigando os médicos a
fraudarem atestados de óbitos;
- usar o Sindicato como trampolim político, pois Edmar Fernandes, Presidente do Sindicato, teve que abrir mão do mandato sindical para candidatar-se a vereador pelo PROS, partido do candidato a Prefeito de Fortaleza, Capitão Wagner, apoiado por Bolsonaro.
- não apresentar publicamente nenhum Programa de Ação Sindical e fugir de todos
os debates promovidos por canais de comunicação de Rádio e TV, sonegando
informações à categoria médica, para que a mesma tomasse conhecimento e
comparasse as propostas das duas chapas para, então, fazer a escolha informada;
- divulgar, frequentemente, fake news toscos e de baixo calão contra membros da
Chapa 2, especialmente contra a candidata a Presidente, Liduína Rocha.
CARACTERÍSTICAS DA CHAPA 2
A Chapa 2 - Médicos em defesa da Vida, da Ciência e do SUS:
- elaborou um Programa de Ação Sindical, amplamente discutido com seus
apoiadores, onde se destacam as propostas de luta por uma Carreira Médica de
Estado, Plano de Cargos, Carreira e Salários, com salário base de referência
baseado na proposta da FENAM, a defesa do fortalecimento do SUS e contra a EC
95 e o exercício da medicina orientado na Ciência, na Ética e o Humanismo;
- o reconhecimento da gravidade da Covid19 e de seu poder de infectividade e
letalidade e da necessidade de enfrentá-la segundo as orientações da
Organização Mundial da Saúde;
- seguir os Protocolos Clínicos sobre Covid baseados em pareceres das
Sociedades Brasileiras de Infectologia, de Terapia Intensiva, de Pneumologia,
fundamentadas em pesquisas da comunidade científica internacional;
- pautar a campanha eleitoral sindical na defesa de propostas, na verdade
científica e na urbanidade, sem jamais entrar no esquema raso de disseminação
de fake news e de ataques pessoais grosseiros, sempre dispondo-se ao debate de
ideias;
- defender a ética médica ao prestar cuidados de saúde baseados nos princípios
de autonomia, confidencialidade, justiça, beneficência e não-maleficência.
O QUE MOTIVOU A VITÓRIA DA CHAPA 1?
Numa disputa muito acirrada, em que os componentes e apoiadores da Chapa 2
fizeram um intenso trabalho de comunicação e convencimento, a Chapa 1, mesmo
assim, saiu vitoriosa, com uma pequena diferença, comparada com as duas últimas
eleições sindicais.
O grupo de Mayra, Edmar Fernandes, Leonardo Alcântara e George Magalhães,
embora vitorioso, perdeu muito espaço na categoria médica, consolidando-se um
forte movimento de oposição, representado pela Chapa 2 e seus apoiadores.
A vitória deste grupo político da Chapa 1 baseou-se, em primeiro lugar, num
forte componente ideológico reacionário, que domina parte da categoria médica.
Este componente tomou impulso nos anos 2013/2014, com a articulação nacional em
torno do movimento "Dignidade Médica", eivado de preconceitos contra
pobres, negros, nordestinos e ideias progressistas. O auge da intolerância, que
motivou a ação do Ministério Público contra este grupo, foi o pronunciamento de
uma afiliada que propôs a seus colegas a "castração química" dos
nordestinos, porque estes sempre davam a vitória eleitoral aos candidatos de
esquerda.
As sementes nocivas da intolerância foram fertilizadas, em mentes e corações de
colegas médicos e médicas formados a partir de 2010, por alguns de seus
professores. Na Faculdade de Medicina da UFC, por exemplo, um reconhecido
professor, que inclusive compõe a nova Diretoria do sindicato, chegou a fazer
fotos coletivas com alunos, de apoio ao candidato a Presidente da República de
direita e proferir ameaças a alunos que apoiavam a candidata de esquerda.
O segundo motivo da vitória da Chapa 1 foi de caráter técnico-administrativo e
moral.
A Diretoria do Sindicato, da mesma linha política da Chapa 1, controlou todo o
processo eleitoral e, sem sombra de dúvida, manipulou vergonhosamente o pleito.
Percebendo a grande movimentação da Chapa 2 para atualizar os dados cadastrais,
particularmente o número do telefone e o e-mail de seus apoiadores, decisivos
para a votação on-line, o Sindicato simplesmente não repassou a atualização
para a Equipe de Programadores responsáveis pelo Sistema de Votação. O
resultado é que dezenas e dezenas de colegas apoiadores da Chapa 2 não
conseguiram votar pelo sistema on-line e teriam que deslocar-se até o Sindicato
para a votação manual. Como muitos colegas estavam de plantão, trabalhando ou
morando no interior e alguns tinham dificuldades de locomover-se, deixaram de
votar, o que alteraria o resultado eleitoral final, que poderia, inclusive, ter
favorecido a Chapa 2. Esta manobra, moralmente questionável, facilitou a
vitória da Chapa 1.
O QUE FAZER?
Em primeiro lugar, não devemos nos dispersar.
A belíssima e entusiasta campanha eleitoral da Chapa2 uniu os Coletivos Médicos
Rebento, Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia-Ceará e a
Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares-Ceará numa convivência política
respeitosa, aguerrida e criativa. No nosso ponto de vista, o coletivo
Chapa2-Médicos em defesa da Vida, da Ciência e do SUS deve evoluir para
transformar-se em um movimento permanente, democrático, libertário e humanista,
denominado Movimento de Médicas e Médicos em defesa da Vida, da Ciência e do
SUS - MMM-VCS. Este Movimento deveria atuar pautado, basicamente, no Programa
da Chapa2, acrescentando os componentes de defesa do Estado Democrático de
Direito e da Formação Médica voltada para as necessidades reais da população,
baseadas no perfil epidemiológico e demográfico, e nas necessidades sentidas,
baseada na demanda, fortalecendo os aspectos da ética, do humanismo e das
evidências científicas. O campo de ação seria nos Hospitais, nas Faculdades de
Medicina, em estreita parceria com os Diretórios Acadêmicos e na Comunidade,
fortalecendo a experiência da Medicina de Família e Comunidade. Este Movimento
deveria ter uma espécie de Comissão Executiva/ Deliberativa, composta por 02
representantes dos coletivos Rebento, ABMMD-Ce, Rede Nacional de Médicas e
Médicos Populares-Ce e 01 representante dos Diretórios Acadêmicos de Medicina
da UFC, UECE e Unifor, num total de nove companheiros.
Cada Coletivo manteria sua autonomia, mas todos buscariam uma ação unificada,
sempre que necessário e possível.
UNIDOS SOMOS MAIS FORTES
Manoel Fonseca
Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia-Ceará
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