Aboio no Sertão de Quixadá
(clica na imagem para seguir para cantoria no Youtube)
Aboio no Sertão de Quixadá
Manoel Fonsêca
Quando canto um aboio
que vem lá do coração,
o gado fica quieto
como a prestar atenção,
e o cavalo ensimesmado
escuta minha canção!
Ê, vida de gado, ô... (Estribilho)
Meu cavalo é tão bonito
pelo lustroso e cardão,
tem uma estrela na testa
e se chama alazão,
é tão forte como um touro,
rápido que nem gavião!
Eu monto no meu cavalo,
chapéu de couro e gibão,
ele corre bem ligeiro,
as rédeas na minha mão.
Lanço o laço no espaço:
é boi preso no mourão!
Muita alegria se espalha
quando chove no sertão,
o sertanejo se apressa
prá plantar milho e feijão,
pássaros fazem seus ninhos,
no açude canta o carão!
Dia 13 de dezembro
assunto as pedras de sal,
se choram e se desmancham
este é um bom sinal,
muita água no açude,
muita fruta no quintal.
Se o João de Barro faz ninho
para o lado do poente,
se as cigarras cantam juntas
em sintonia estridente,
vai chover no meu sertão
e o povo fica contente!
Se flora o mandacaru,
se canta o "passo" carão,
se coaxa o cururu,
se dá flor o Sombreão,
são sinais de bom inverno,
vai chover no meu sertão!
Se as formigas criam asas
e voam lá no terral,
se constroem o formigueiro
feito torre de areal,
são sinais de bom inverno,
tanajuras no embornal!
Quem aboia não esquece
das coisas lá do sertão,
tomar banho no açude,
arraia, bila e pião,
e os namoros na esquina
prá alegrar o coração!
Pamonha, milho cozido,
feijão verde no almoço,
coentro como tempero
com quiabo é um alvoroço,
a fartura do inverno
alegra o velho e o moço!
Que as forças da natureza
protejam bichos e gentes,
a dádiva de um bom inverno
faz germinar as sementes,
e os frutos da boa terra
a todos deixam contentes!
Não deixe nunca de amar
nossa mãe terra querida,
a casa de todo mundo,
proteção de toda vida,
mas precisa ser cuidada
e jamais ser destruída!
Dá uma saudade danada
ver chover no meu sertão,
tomar banho de biqueira,
ouvir ronco de trovão.
Assim termino este aboio,
que alegrou meu coração!
Este é um aboio autoral criado em homenagem aos sertanejos nordestinos e aos profetas da chuva.
Autor: Manoel Fonseca
13 de janeiro de 2013
Comentários
Postar um comentário