“Este caminho tem coração?” C. Castanëda
Este debate é muito importante
entre nós, Médicos pela Democracia. De princípio eu concordo com as questões e
preocupações levantadas no grupo. Dá para fazer política e ganhar eleição sem
caixa 2, que na sua essência é um processo corruptivo. No mínimo o caixa 2
significa sonegação fiscal, de quem doa e de quem recebe, e pode envolver troca
de favores intermediada por dinheiro público, superfaturamento de obras
públicas, que retira dinheiro dos programas sociais. Isto era uma prática de
longas datas, feita por políticos da direita. Mas é licito a esquerda ter a
mesma prática? Não concordo.
A primeira eleição de Lula, todos
lembram, teve uma mobilização intensa da militância, que fez finanças de massa,
porque éramos movidos por um sonho de uma sociedade justa, um pais soberano, um
desenvolvimento que vencesse a miséria, a pobreza e a fome do povo, com
educação e saúde de qualidade. Mas depois de chegar ao poder, de governar, o
que foi feito? Será que foi trilhado o caminho que tem coração? Ou foi rompido
este caminho e iniciado também um processo de cor(coração) erupção (cor
rupção), romper com o coração? Ou seja, começou-se a achar que os fins (o bem
coletivo) justificavam os meios (os acordos com corruptos, as práticas
deletérias e ilegais de captação de recursos para se manter no poder).
Não devemos também ser ingênuos e
pensar que a corrupção é apenas relacionada com dinheiro. A maior “cor rupção”,
agir sem coração, está no sistema capitalista que acumula mais valia em cima da
maior exploração. Mais corrupto ainda é o setor do capital financeiro, que
enriquece sem produzir riqueza, sem incorporar tecnologia, sem produzir
empregos, praticando a agiotagem oficial. Mas os governos de esquerda deveriam
desenvolver políticas públicas para reduzir a desigualdades, fortalecer a
organização popular e, principalmente, investir pesado em cultura, educação e
comunicação, visando fortalecer a consciência política, a conduta ética e
cidadã e a prática e atitudes de honradez, de respeito com as diferenças, de
convivência fraterna e solidária. Temos sempre que trilhar o caminho que tem
coração, temos que fazer política sem romper com o coração (cor ação).
Manoel FonsecaDo coletivo: “Médicos pela Democracia”
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